sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Guimarães procura a vida (e o futuro) - El País

A crise, várias crises em simultâneo, cercam Guimarães, a bela cidade portuguesa com cerca de 50 000 habitantes e uma das cidades mais importantes da região do Vale do Ave. Ao longo dos anos oitenta e noventa, as muitas fábricas têxteis que preenchiam este vale foram fechando devido à pujante competência da China. Desde então elanguescem como velhos dinossauros inúteis. O próprio centro histórico de Guimarães, preciosamente conservado na sombra do velho castelo, está rodeado por várias fábricas vazias com chaminés de tijolo mortas. Porém, os habitantes desta cidade decidiram devolver-lhes a vida, enchendo-as de quadros e de concertos e de peças de teatro para que eles próprios possam sobreviver. A Capital Europeia da Cultura, teve início no último sábado nesta localidade situada a 150 quilómetros de Vigo, com um espetáculo dos La Fura dels Baús que foi contemplado pela cidade inteira que saiu à rua. Através desta iniciativa, prevê-se que muitas das fábricas sejam recuperadas e transformadas em cenários culturais, cenários de filmes ou residências para artistas bolseiros. É o reinventar ou a morte.


A fábrica da Ramada, onde se produziam curtumes e que fechou há bastantes anos, acolherá em setembro um instituto de desenho, mas antes disso servirá como sala de ensaios da orquestra da organização. A ASA, fábrica especializada em colchas e toalhas no seu tempo, situada fora de Guimarães na localidade de Vizela e Santo Tirso, cessou as suas atividades de forma definitiva em 2006. Agora, através de um investidor privado, será transformada numa espécie de centro comercial de lojas baratas. Todavia, antes disso, os seus 24 000 metros quadrados servirão para acolher as principais exposições de pintura.

E a fantasmagórica fábrica têxtil do Conde de Vizela, onde, no século XIX, trabalhavam mais de 4000 empregados e que tinha até a sua própria moeda, Víctor Erice e outros cineastas como Jean-Luc Godard e Aki Kaurismäki (um finlandês que vive perto de Guimarães) vão filmar um filme coletivo. A cidade não está disposta a deixar que o cinema passe por aqui com a desculpa de 2012 e que depois se vá embora, pelo que adquiriu uma equipa de produção cinematográfica com o objetivo de tornar esta cidade um destino para os cineastas: “Já se fala de produções para 2013 que iam para a Europa de Leste. O próprio Erice disse que gostaria de filmar aqui", assegura o responsável pelo setor audiovisual de Guimarães 2012, Rodrigo Areias.



Areias fala disto noutra fábrica antiga de Guimarães reconvertida – graças à iniciativa de um grupo de jovens arquitetos da cidade – no Centro para Assuntos de Arte e Arquitetura. Ainda cheira a novo, há muitos espaços vazios e faz um frio que dói. Porém, cada edifício recebeu a sua missão, alguns servem de residências para artistas estrangeiros convidados para fazerem parte de um laboratório audiovisual especializado em robôs animados e jogos móveis que fariam as delícias de alguém louco por informática aplicada ou de alguém simplesmente louco.

“As pessoas da cidade vêm aqui à noite”, explica Areias com um sorriso. Talvez seja este o segredo: a cidade, a gente desta cidade, que em 2001 foi eleita como Património Cultural da Humanidade, vive a capital da cultura mais como uma oportunidade do que como uma festa. Para muitos, é uma sorte passageira que provavelmente não voltará a acontecer. Quem a organiza tem uma ideia clara: “Não queremos que venha aqui a Filarmónica de Berlim, que aliás é muito cara, toque, faça isso muito bem e que logo depois se vá embora e adeus”, explica um dos porta-vozes da candidatura. “Queremos criar algo que dure, que sirva para mexer com a cidade e com as pessoas daqui", acrescenta. Daí um dos lemas: "Eu faço parte". Há pins com essa frase agarrados às lapelas e aos casacos de quase todos os vizinhos em Guimarães.



O orçamento é pequeno (110 milhões de euros), uma consequência de um ano em que Portugal joga, literalmente, a sua sorte como Estado insolvente, ameaçado pela bancarrota e supervisionado pela troika. Por isso foi necessário trabalhar a imaginação. Um exemplo: a banda inovadora Buraka Som Sistema, um dos exemplos da modernidade portuguesa, virá à cidade e dará um concerto a 28 de janeiro no Pavilhão Multiusos. Nesse dia também está previsto um programa intitulado "Mi casa es tu casa", em que os habitantes da cidade emprestam a sua residência, ou o seu quarto, ou a sua sala a grupos que fazem alí os seus recitais. Já há 40 casas dispostas a abrirem as suas portas.

Portanto, os orgulhosos habitantes de Guimarães estão recetivos. Não é em vão que, segundo os historiadores, tenha nascido aqui Portugal, tal como o seu primeiro rei, Afonso Henriques, que viveu no famoso castelo que, com o tempo, adquiriu o aspeto de uma velha fábrica abandonada. Não é por acaso que o programa oficial arranca no domingo com um documentário sobre música portuguesa intitulado, sintomaticamente, Vamos Tocar Todos Juntos Para Ouvirmos Melhor.






Guimarães se busca la vida (y lo futuro)

La crisis, varias crisis simultáneas, cercan a Guimarães, bella ciudad portuguesa de unos 50.000 habitantes, cabeza de la comarca del Valle del Ave. En los años ochenta y noventa, las inmensas factorías textiles que jalonaban todo este valle se fueron abandonando por la pujante competencia china. Desde entonces languidecen como viejos dinosaurios inútiles. El mismo casco antiguo de Guimarães, preciosamente conservado bajo la sombra del viejo castillo, está rodeado de factorías vacías con chimeneas de ladrillo muertas. Pero los habitantes de esta ciudad han decidido devolverles la vida llenándolas de cuadros y de conciertos y de obras de teatro para, de paso, tratar ellos mismos de sobrevivir. La Capitalidad Europea de la Cultura, estrenada el sábado por esta localidad situada a 150 kilómetros de Vigo mediante un espectáculo de La Fura dels Baus contemplado por la ciudad entera en la calle, prevé la recuperación de muchas de estas fábricas como escenarios culturales, platós de películas o residencias de artistas becados. Reinventarse o morir.

La fábrica de Ramada, una vieja industria de curtidos, cerrada hace muchos años, albergará en septiembre un instituto de diseño, pero antes servirá como sala de ensayos de la orquesta de la organización. La factoría ASA, especializada en su tiempo en colchas y toallas, enclavada fuera de Guimarães, en la localidad de Vizela e Santo Tirso, dejó definitivamente de funcionar en 2006. Ahora, mediante un inversor privado, se transformará en una especie de centro comercial de tiendas baratas. Pero antes, sus 24.000 metros cuadrados servirán para albergar las principales exposiciones de pintura.

Y en la fantasmal fábrica textil del Conde de Vizela, donde en el siglo XIX trabajaban más de 4.000 empleados y que contaba hasta con moneda propia, Víctor Erice y otros cineastas como Jean-Luc Godard o Aki Kaurismäki (el finlandés vive cerca de Guimarães) rodarán una película colectiva. La ciudad no está dispuesta a que el cine pase por aquí con la excusa de 2012 y después se vaya, así que ha adquirido un equipo de producción de películas a fin de convertirse en una ciudad-destino para los cineastas: “Ya tenemos apalabradas producciones para 2013 que iban a irse a Europa del Este. Erice mismo dice que le gustaría venir aquí a rodar”, asegura el responsable del sector audiovisual de Guimarães 2012, Rodrigo Areias.

Areias explica esto en otra vieja fábrica de Guimarães, reconvertida —gracias al impulso de un grupo de jóvenes arquitectos de la ciudad— en el Centro para Asuntos de Arte y Arquitectura. Aún huele a nuevo, hay muchos espacios vacíos, la biblioteca presenta los libros arrumbados y envueltos en plásticos y hace un frío que pela. Pero cada habitación tiene adjudicada una misión, desde residencias para artistas extranjeros invitados a un laboratorio audiovisual especializado en robots animados y juguetitos móviles que haría las delicias de cualquier chiflado de la informática aplicada o de cualquier chiflado a secas.

“Aquí viene la gente de la ciudad por la noche”, explica Areias con una sonrisa. Tal vez este es el secreto: la ciudad, la gente de esta ciudad, que en 2001 fue elegida Patrimonio Cultural de la Humanidad, vive lo de la capitalidad cultural más como una oportunidad que como una fiesta. Para muchos es una suerte de tren que a lo mejor no viene más. Los que lo organizan lo tienen claro: “No queremos que venga la Filarmónica de Berlín, que además es muy cara, toque, lo haga muy bien y luego se vaya y adiós”, explica uno de los portavoces de la candidatura. “Queremos hacer algo que perdure, que sirva para reubicar a la ciudad, y con la gente de aquí”, añade. De ahí uno de los lemas: “Yo formo parte”. Hay chapitas colgadas con la frase de las solapas y de las chaquetas de casi todos los vecinos de Guimarães.
El presupuesto es magro (110 millones de euros), consecuencia de un año en el que Portugal se juega —literalmente— su suerte como Estado solvente, amenazado por la bancarrota y supervisado por la troika. Por eso ha sido necesario echarle imaginación. Un ejemplo: vendrá la innovadora banda Buraka son Sistema, uno de los ejemplos de la modernidad portuguesa, que dará un concierto el 28 de enero en el Pabellón Multiusos. También hay previsto ese día un programa titulado Mi casa es tu casa, en el que los vecinos de la ciudad prestan su piso o su habitación o su pasillo para que otros grupos den allí recitales. Ya hay 40 casas dispuestas a abrir sus puertas.

Los orgullosos vecinos de Guimãraes, pues, responden. No en vano, según los historiadores, Portugal nació aquí, como su primer rey, Alfonso Enríquez, que habitó el famoso castillo que, con el tiempo, ha ido adquiriendo aspecto de vieja fábrica abandonada. No es casual que el programa oficial arrancara el domingo con un documental sobre música portuguesa titulado, sintomáticamente, Vamos a tocar todos juntos para oírnos mejor.

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